Vou compartilhar com vocês um texto que escrevi sobre o Festival Folclórico de Parintins, nacionalidade e outras coisas. Espero que gostem.
Parintins e a ode ao nosso índio interior
É com Parintins que o mundo vai conhecer a Amazônia.
Parintins é o caminho!
Antes de ver o que acontece na festa do Boi de Parintins, pensava como muitos devem pensar: que a vida na Amazônia é a vida na floresta, nesse sentido e visão distanciada que temos da floresta, onde a fauna e flora se sobrepõe a vida humana.
Esse é um pensamento tão tolo como acreditar que São Paulo é o reino das oportunidades.
Assistindo ao Festival pude perceber que a floresta não se sobrepõe ao homem. Eles comungam. A floresta, seus seres e lendas dividem espaço com o homem.
Como não conhecemos o Brasil!
Nós, seres urbanos, brasileiros também, não conhecemos mais do que 3 lendas de nosso folclore, talvez isso aconteça porque nunca disseram que ele é nosso. Esse distanciamento é o nosso maior crime. É ele que não permite que tenhamos a Amazônia como nossa.
Parintins é a saída!
Em Parintins nosso índio interior é evocado, é cantado e dançado junto aos seres mágicos da Floresta.
Se cada brasileiro pudesse tomar ciência desse ser interno, absurdos como Belo Monte não aconteceriam.
Em textos como o da abertura do Festival*, declamado pelo Apresentador do Boi Garantido, pode-se ver o poder dessa ópera verdadeiramente e inteiramente tupiniquim.
O Brasil tem que conhecer o Brasil.
É tomando consciência de nossa nacionalidade, com toda sua amplitude territorial, cultural e moral que vamos poder combater a barbárie que nos destrói como nação florestal e tropical.
Não podemos deixar que o governo nos impeça de crer que somos UM Brasil.
Somos tropicais!
Somos Florestais!
Salve a nacionalidade sem ufanismos baratos!
Salve Parintins!
Salve nosso índio interior!
Filipe Fernandes Hauszler
São Paulo – 28.06.2011
* “Senhores jurados, queridos amigos visitantes, minha galera querida a floresta queima aos olhos do mundo, o progresso avança e a vida se esvai. A soja ronda a Amazônia e o previsível acontece - o fogo arde e a vida vira cinza - o que era gente vira boi e o que era árvore vira soja e grama. Assim nossa Amazônia queima, sem dó, nem drama, aos olhos insensíveis dos gananciosos. Mas é preciso gritar enquanto há tempo, e mais do que nunca é preciso gritar para salvar a vida. Essa é a grande missão do Garantido que, há mais de uma década, vem chamando a atenção para os riscos que rondam a Amazônia. Nesta noite o Garantido abre o Festival Folclórico de Parintins com o espetáculo “Povo Vermelho“, revelando o índio como matriz principal de toda a mestiçagem e transfiguração ocorrida desde a colonização, que resultou no homem amazônico atual, com suas características indígenas visíveis. O nosso tema “MISCIGENAÇÃO” mostra os povos da floresta, para que possamos reconhecer o índio que existe em cada um de nós, valorizando, definitivamente, a contribuição indígena na formação social e cultural da Amazônia. “Povo Vermelho” é mais um grito de alerta através da arte para que o direito à vida seja resguardado a todas as comunidades indígenas, que sempre sofreram sem ter o direito à terra. E aos povos da floresta, como resultado da mais complexa transfiguração antropológica, dolorosa enquanto fruto de uma dominação violenta, mas generosa, segundo Darcy Ribeiro, enquanto resultante de um novo povo. Vermelho porque descendente dos índios e generoso porque cultiva o dom da convivência pacífica e harmoniosa. Estamos convencidos de que a “MISCIGENAÇÃO” fortalece o sentimento humano da convivência pacífica. E é com este sentimento senhores jurados, meus queridos visitantes, minha galera amada que o nosso Boi GARANTIDO apresenta, a partir de agora, o espetáculo: “Povo Vermelho – A Amazônia Indígena Antes” (Texto declamado por Israel Paulain, apresentador do Boi Garantido, na primeira noite do Festival de Parintins, 24/6/11.)
Filipe Hauszler